Faz alguns dias que tenho lembrado da sensação que me tomava nos últimos minutos do último período da aula de sexta-feira. Primeiro grau, logo, fim da tarde. Todos os alunos ficavam com suas mochilas sobre a classe, todo o material já guardado, sentados de lado na cadeira, só esperando a sineta pra sair correndo em direção à porta da sala. Quando finalmente ela soava, corríamos não como cavalos de turfe, mas como cachorros de caça. O portão do colégio era a raposa. Era mais que pressa, era pior que agonia, era como se acreditásssemos de fato que a direção da escola fosse sair ainda mais depressa que os alunos e trancar as portas atrás de si. Presos no colégio por todo o fim de semana, já pensou?
Eu era uma patologia mais profunda. Tinha medo que minha mãe visse os professores saindo antes de mim e pensasse que eu já tinha ido pra casa, afinal se até os professores já estavam na rua, os alunos saíram há muito tempo! E eu ficava asusstado e furioso ao mesmo tempo. Que cara-de-pau ela era pra me largar aqui! Que falta de consideração! Ela não me amava mais? Nem daria pela minha falta até me mandar pra aula na segunda. Surpresa, já estou aqui esperando a professora!
Claro que eu não era o único com delírios. Anos depois fiquei sabendo disso, que toda criança tem medo principalmente de perder os pais. Mas antes de saber disso ficava estranhando o fato de ficar bravo com eles por algo que eles poderiam fazer mas muito provavelmente nunca fariam - partir por vontade própria. E daí? Daí que, incluindo eles, nunca conheci ninguém que tenha morrido sem um pouquinho de má vontade que fosse. Diante do inevitável, uma atitude que pode ser resumida na expressão "mas já?"
Já nasci com uma paleta de cores no coração. Toda borrada. Vermelho de raiva, verde de inveja, azul de fome, e sempre um pouco de branco de medo, pra diluir os tons e não deixar nenhuma cor predominar.
Existe raiva, medo e dor quando se fala de amor, diz uma letra da Anahata, excelente banda de POA que pouca gente conhece.
Eu era uma patologia mais profunda. Tinha medo que minha mãe visse os professores saindo antes de mim e pensasse que eu já tinha ido pra casa, afinal se até os professores já estavam na rua, os alunos saíram há muito tempo! E eu ficava asusstado e furioso ao mesmo tempo. Que cara-de-pau ela era pra me largar aqui! Que falta de consideração! Ela não me amava mais? Nem daria pela minha falta até me mandar pra aula na segunda. Surpresa, já estou aqui esperando a professora!
Claro que eu não era o único com delírios. Anos depois fiquei sabendo disso, que toda criança tem medo principalmente de perder os pais. Mas antes de saber disso ficava estranhando o fato de ficar bravo com eles por algo que eles poderiam fazer mas muito provavelmente nunca fariam - partir por vontade própria. E daí? Daí que, incluindo eles, nunca conheci ninguém que tenha morrido sem um pouquinho de má vontade que fosse. Diante do inevitável, uma atitude que pode ser resumida na expressão "mas já?"
Já nasci com uma paleta de cores no coração. Toda borrada. Vermelho de raiva, verde de inveja, azul de fome, e sempre um pouco de branco de medo, pra diluir os tons e não deixar nenhuma cor predominar.
Existe raiva, medo e dor quando se fala de amor, diz uma letra da Anahata, excelente banda de POA que pouca gente conhece.
2 Comments:
Que legal, esse teu post, Ed. Não conhecia teu blog e me identifiquei deveras com teus sentimentos infantis com relação aos pais. Parecia que eu estava me lendo nas tuas letrinhas! hehehe beijoca!
Humm, minha mãe nunca ia me buscar, mas entendi alguns sentimentos como "Ela não me amava mais", porém no meu caso era: Ela não me ama...
Conheci Anahata no Rio
Gostei da paleta de cores ;)
Angel
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