quarta-feira, outubro 19, 2005

PERFEIÇÃO

“Um Gulag é um trabalho sempre em progresso, nunca concluído. Prisioneiros são seres insatisfeitos por natureza”. Palavras do Super-Homem, num gibi de realidade alternativa onde ele se torna ditador mundial e a resistência é liderada por um humano misterioso que se veste de morcego.
Assim como o autor desse gibi, eu quero achar soluções em lugares e tempos alternativos. Pra variar bastante, minha preferência atual recai sobre o aqui e agora. Tenho observado meus primos e primas envolvidos em seus cursos universitários, o que para alguns significa também Diretório Acadêmico e comissão do trote. Esses termos que terminam em “ório” e “ão” têm uma aura tão Revolução Francesa que não pude evitar: transferi meus debates mentais anarquistas solitários para as conversas que tenho com eles sobre Universidade, política, partidos e eleições, futuro, certo e errado, sim ou não para o comércio de armas de fogo e munições, sonhos e temores, kryptonianos e terráqueos.
Baseado na minha compreensão acumulada do gênero humano (compreensão que mal começa a deixar o status de pequena), diria que adolescentes são tão agitados (e nos casos específicos em que estou me baseando, idealistas e desiludidos) porque vivenciam muito rapidamente a passagem do tempo: acham que ele é curto e fugaz porque ainda não apreenderam o conceito de posteridade, o que seria pedir demais de quem tem menos de 20 anos de vida e acha todos os seus parentes “velhos”.
E não aprenderam a se erguer de uma desilusão porque ainda não compreenderam como funciona a história. Aqui no seu sentido mais amplo – História. E com a desilusão surge no horizonte a desistência. Querem largar, deixar o mal vencer por WO.
O que digo a eles, baseado naquela mesma pequena compreensão, é que a solução pra não desistir, quando parece que tudo é inútil, é abraçar a visão zen de que a jornada é tão importante quanto o destino; e, na ausência deste último, torna-se mais importante que o próprio. Parece um abandono do pragmatismo: “O que fazer da vida? Viver para contá-la?”, perguntarão com desdém os bixos do curso de Administração de Empresas. Viver para vivê-la, vê-la como uma sucessão de meios e não de fins. Falando nisso, porque diabos esses imbecis no Congresso precisam de tanto dinheiro? Acham que vão viver 500 anos pra conseguir gastar tudo aquilo? É o que eles me perguntam.
Digo também que o trabalho de “consertar as coisas” é como os gulags do Super-Homem. Uma eterna progressão de insatisfeitos. Estamos frustrados, ás vezes furiosos, mas eu sempre concordei com Zack De La Rocha, que diz que “a raiva é uma dádiva”, porque seguimos uma estrada em eterna construção, colocando os pedágios das nossas escolhas e as placas de sinalização dos nossos medos. Dê a preferência - Ditadura? Ultrapasse sempre pela esquerda - alusão implícita ao progresso?
Quando a esperança está dispersa / Só a verdade me liberta / Chega de maldade e ilusão. A gurizada ouve isso e fica pensando porque o mundo dos sonhos do Renato Russo não existe. Perfeição não existe, já dizia minha mãe, que tinha excelente coração, mas era excessivamente pragmática na hora de votar. Como quase todo mundo que conheço.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

E aí, praga! Adorei o blog, mesmo! Principalmente o primeiro e o segundo tópico... Tu anda inspirado, hein? Bj, Flavinha

outubro 21, 2005 12:14 PM  
Blogger Alcio said...

Já dizia o COC: Vote with a bullet.
Abração!

outubro 22, 2005 9:25 AM  
Blogger Renata Ferlini said...

"Uma eterna progressão de insatisfeitos. Estamos frustrados,"

Pra que eles precisam de tanto dinheiro, vc pergunta? Não vão viver tanto tempo pra gastar, vc responde!

Schopenhauer meu caro!

Somos (em maioria... uns mais outros menos) escravos do "querer". Valoriza-se o ter e assim vem a frustração...
"A vontade, segundo o filósofo, é o princípio fundamental da natureza, a força cega e incontrolável que move o mundo.
Uma força que se manifesta não só na natureza, mas no homem, desde os primeiros dias de vida. O bebê quer a mãe, o colo, sugar.
A vida é sofrimento, ele diz, porque é um constante querer, eternamente insatisfeito. Toda a realização é o ponto de partida de novos desejos"


Sem mais delongas, leia Schopenhauer!

Bjos Rê

outubro 25, 2005 11:08 AM  

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