terça-feira, janeiro 10, 2006

TRÊS PARÁGRAFOS FICCIONAIS E TRÊS NÃO-FICCIONAIS

1. Era uma vez Sujeito, um ser de aparência desgastada e espírito magro e inseguro. Ele tinha o mesmo poder especial de seus antepassados: uma fraqueza interna que contrabalançava com sua força exterior. Desse equilíbrio ele criava uma energia única, que abria grandes e pequenos espaços na vida que levava. Essa energia, seu poder, era o EU. Essa força, ele não podia ver ou compreender inteiramente, mas ela estava totalmente sob seu controle, e ele assim cumpriu o destino que fora pavimentado para ele: sofreu. Logo em seguida, fugiu. Esse ciclo se repetiu por mais tempo do que nos é permitido lembrar.
2. Como não era um completo idiota, Sujeito aprendeu com isso e transformou as fugas em suas escravas, ao invés de se deixar escravizar por elas. Por causa disso, demonstra seu orgulho ostentando um grande S de Sujeito no peito. Ele busca hoje ser não apenas o dono, mas o senhorio de si mesmo: um responsável técnico, por assim dizer, do corpo, alma e mente que o destino lhe deu. Essa busca consome sua energia motriz e o faz suar. O EU expele todo tipo de microorganismos através da pele, exceto os paranóicos, que não são arrastados pela corrente sudorípara porque não têm massa. Eles se acumulam no interior de Sujeito e formam grandes úlceras.
3. De tempos em tempos, as úlceras são expelidas. Sempre em momentos de grande emoção, que podem ser frustração ou êxtase, as duas voltagens nas quais a energia do EU se propaga pelo éter físico. Esses momentos são, na verdade, o domínio das fugas por parte de Sujeito. Ilusões ególatras e psicotrópicos funcionam como meios de condução dessas energias, que sempre atingem as pessoas ao redor do EU. Assim é a luta do herói Sujeito para alcançar um grande bem, que representará a redenção da raça humana: a identidade!
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1. Se sou vilão, quero ser lembrado como Darth Vader. Quero me redimir no final do nosso roteiro. Largando as armas e tirando a armadura. Olha, eu queria saber se fiquei mesmo com o papel do vilão. Se vou ser lembrado assim, com um misto de raiva e piedade. Eu meti os pés pelas mãos. Havia algo importante a ser feito, e eu tenho essa sensação de que não fiz o que poderia. Que precisava atingir um padrão impossível, mas talvez alcançável, se eu me esforçasse de verdade. Cumpri meu dever, mas não abracei nenhuma causa nobre. Também não segui meus instintos, e acredito que deveria tê-los seguido.
2. Acredito tanto nisso que chego a suar só de escrever estas linhas. Pode ser o verão. Mas provavelmente é meu ego. Estou tentando pedir desculpas, mas dói. Na alma, dói desde a última vez que te vi, e nos tendões das mãos, dói agora que já passei de cinco linhas. Não consigo mais digitar sem dor. A tendinite finalmente vai se instalar, e eu vou poder mentir de novo e dizer que “é de tanto tocar violão”.
3. Também não quero fazer isso sem saber se estou me desculpando pelos motivos certos. Tem mais uma coisa. Não quero consertar nada sozinho. Quero me transformar em algo merecedor de perdão em vez de ficar falando e falando até te convencer que ainda sou um Jedi.