quarta-feira, março 15, 2006

MACHO DE VERDADE SE APOSENTA EM PELOTAS


Essa semana eu conheci uma moça de Bagé. Não é a primeira pessoa da região da Campanha que tive o prazer de conhecer, mas é a primeira com menos de 40 anos, o que me animou a direcionar a conversa pros hábitos arraigados daquela região, pra ver se havia algum choque de valores entre as gerações, algo que nós gaúchos não sabemos fazer muito bem. Nem como provocadores nem como provocados.
Não levou cinco minutos pra mencionarmos, não lembro se eu ou ela, a expressão “ponta de faca”. Gente séria, os gaúchos! Preservam o belicismo e a animosidade dos tempos do Castilhismo e cultivam cada vez mais um verniz de civilidade através da modernização (?) chamada “Tradicionalismo”. Ela falava com uma visão exterior a essa coisa toda. Acho que não havia conexão mais profunda com o que parece pra ela “uma coisa lá dos meus pais”. E ficamos nisso.
No dia seguinte ganhei dum amigo a Revista Aplauso nº 71, com o Renato Canini na capa. Esse cartunista gaúcho desenhou os gibis do Zé Carioca nos anos 70. Em parceria com o roteirista Ivan Saidenberg, Canini tirou o papagaio daquela roupa de malandro de 1920 (gravata borboleta e chapéu, onde estamos?), jogando-o de camiseta num barraco no morro. A Vila Xurupita, que parecia bairro de subúrbio, virou favela. E o humor ficou mais adulto, quase cafajeste, mas sem perder a boa índole fundamental. Ou seja, o Zé virou um legítimo Disney brasileiro.
E como essas duas coisas se relacionam? É que eu lembrei duma história clássica do Canini (não sei o quanto desse roteiro é dele) em que o Zé recebe um telegrama de seu primo gaúcho, o Zé Pampeiro, pedindo ajuda numa “peleja” (assim em castelhano, com J mesmo) contra outro grupo de peões. Ele vem ao RS, onde cospe chimarrão na cara dum peão (porque não sabia que estava quente) e se enrosca sozinho ao tentar lançar uma boleadeira. A certa altura, Zé Pampeiro explica que a peleja é por um campo de estância. O grupo que vencer fica com toda a área pra criar seu gado. Aí o Zé Carioca pergunta ao primo gaúcho porque os dois grupos não medem o campo e dividem ao meio. Zé Pampeiro responde perplexo: “Mas primo, aí não tem peleja!”.
Segundo a Aplauso, Saidenberg é carioca. Essa chinelada na índole campeira, pra mim, tinha que ser idéia do Canini, que continua não perdendo a piada: ele hoje mora em Pelotas e disse na entrevista que seu banheiro “é rosa, como todos na cidade”.

1 Comments:

Blogger Angela said...

Acho que tu conhece outro bageense com menos de 40 anos...o Rafael!

março 29, 2006 7:17 PM  

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