domingo, fevereiro 25, 2007

REGURGITANDO A AMARGURA ACUMULADA – 02/09/2006

Regurgitar significa expelir o que há em excesso numa cavidade (geralmente é o estômago). Eu odeio vomitar. E sinto ânsia de vômito cada vez que vejo resto de Nescau no fundo do copo. Regurgitar vem do latim gurgite, que significa abismo. Sair do abismo ou cair no abismo? Sair é nascer e cair é criar asas? Sair é perder algo importante e cair é esquecer de onde estava vindo?
Corações também regurgitam. Podem regurgitar sangue, quando são atravessados por uma bala. Pode ser arte, quando são pouquíssimo adaptados a esta vida (tem dias em que eu me sinto, como diz Clark Kent, um “estranho visitante de outro planeta”). Pode ser dor, quando acabaram de sofrer um tombo feio e o certo, cotidiano, corriqueiro, perene se tornou memórias.
Os relacionamentos estão para o amor assim como a burocracia está para a liberdade. É uma ordenação cartesiana de um instinto primal. A filósofa Jennifer Lopez coloca assim: “A salsa é a expressão vertical de um desejo horizontal”. Hein?
Toda elocubração sobre o tema se torna apenas exibicionismo intelectualóide quando eu me encontro diante de um coração capaz de enxergar os próprios hematomas. E fazer das muletas uma alavanca. Parece que sempre tem alguém entre minhas pessoas amadas que está assim, e na hora é lindo de ver. Inspirador até, ou inspira dor?
Só pra esclarecer: estávamos em um bar da moda, junto à pista de dança, conversando sobre algo fútil, quando entra o assunto relacionamento-recentemente-mal-acabado e ela chora. De soluçar no meu ombro. E põe no ar a frase da noite: “Ah, quanto tempo eu passei afastada de mim mesma!”.