domingo, fevereiro 25, 2007

TRÊS DE FEVEREIRO – escrito em 04/02/2007, publicado em 14/01/2008

A aceitação da dor é diferente pra ateus e crentes. Quando minha tia, irmã mais velha do pai, alçada (por mim, pelo menos) à condição de matriarca espiritual depois da morte de minha vó, disse que rezou uma Ave-Maria pra ele ontem, data do seu aniversário, eu disse com toda a sinceridade: “Que bom!”. Não, eu não quis dizer “que bom que falar sozinha te consola” porque isso eu também faço, só que na maioria das vezes não recito um texto decorado e não uso a voz, só o pensamento.
O que eu quis dizer foi “que bom que encontras nisso um apoio pra tua própria força, assim como eu encontro em outros lugares.”
Se meu pai estivesse vivo, teria completado 65 anos. É muito estranho. Quando alguém morre e tu não estavas lá na hora, passa-se o velório inteiro com vontade de sacudir o cadáver: “- Acorda, perdeu a graça, vambora!”. Afinal, eu não estava lá. Não vi. Portanto, não aconteceu. Em escala microscópica de importância, esse mesmo raciocínio se aplica a questões como “pra onde vai o interior da geladeira quando eu fecho a porta?”.