domingo, fevereiro 25, 2007

EU CONFESSO – escrito em 28/09/2006, publicado em 14/01/2008

Sou influenciado demais pelos Estado Unidos. O Tio Sam é a Roma da minha geração (e qual é a minha geração? É a dos mais jovens seres humanos que lembram da vida sem Internet). Com a rede mundial, todo mundo pode ter seu Hakim Bey de estimação e por conseqüência, seu próprio universo de heróis e vilões. Provavelmente personagens de Anime. Desculpem, crianças, eu sou do tempo em que as maravilhas do mundo estavam no Atlas Escolar. Para meus avós, quem fazia o papel de Roma era a França. Para meus pais, era o Milagre Brasileiro. Para meus filhos, provavelmente Roma será a cidade onde ocorrem os crimes do GTA San Andreas.
Eu penso em um mártir e me vem Martin Luther King. Eu penso em um mago supremo e me vem George Lucas (como sabemos, o cinema é a magia da pós-modernidade). Eu penso em um pária e me vem Henry David Thoreau. Eu penso em um oráculo e me vem Mark Twain. Que exemplos brasileiros eu poderia dar? Tiradentes, Getúlio Vargas, Carlos Lamarca, Barão de Itararé?
O problema de comunicação que atrapalha o meu relacionamento com o Brasil está no fato de que eu gosto (demais, reconheço) daquilo que os americanos chamam de “entertainer”, enquanto que o show business nacional é interpretado pela Política. Não tem pão, então capricha no circo!
E a Política (sim, o P tem que ser maiúsculo, e se tu precisas perguntar porquê, não és um cidadão) nos EUA começou como uma idéia genial. Vide a constituição deles. Todos os homens são criados iguais e têm direitos inalienáveis como a liberdade e a busca da felicidade. Depois deu no que deu porque os criadores da idéia eram latifundiários gordos e o pessoal que os sucedeu no trabalho de construir a nação baseada nessa filosofia deixou de perceber a diferença entre Estado e Empresa. Que grande tragédia! Como eu queria que “pobreza” fosse o nome de um antibiótico eficaz contra o vírus do orgulho!
O conceito de entertainer é uma merda. O Faustão é um entertainer: não sabe fazer nada, não canta ou dança ou interpreta, ele é somente um mestre-de-cerimônias. A “função” desempenhada pelo Faustão e similares é razão suficiente pra que eu considere a televisão uma invenção supérflua. Assim como o forno de microondas fornece comida instantânea, a TV é um eletrodoméstico que fornece filmes, desenhos animados e futebol. De resto, tudo que a programação dela se propõe a fazer, o teatro e a literatura fazem melhor.
A única contrapartida aceitável ao entretenimento é ter algo a dizer. O melhor tipo de fascista é aquele que sempre sabe o que está fazendo: a espontaneidade é uma ferramenta de marketing e não uma qualidade pessoal. Melodias, letras, opiniões, certezas, tudo é interessante e consumível, e não poderia ser uma sem ser a outra. Escreve porque tem o que dizer, mas também escreve com a “intuição calculada” de ser interessante, porque, no final das contas, há dois objetivos ao escrever: aprender a escrever e me tornar interessante (sem nunca saber qual dos dois se está priorizando). Todo pedacinho de produção artística pode ser, assim, mais uma Polaroid da peculiaridade do seu autor, que diz: “Leiam-me, ouçam-me, cantem junto, invejem-me! Porque eu sou estranho e ‘diferente’, quase um psicopata, quase um suicida, furioso com a humanidade porque quase sempre falham os meus esforços para ser menos parecido com ela!”.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

t´s...me explica O QUE É QUE TU TÁ FAZENDO NO CAFÉ DO LAGO????9 não q seja ruim,mas...) VAI ESCREVER UM LIVRO!!!!! eu compraria!

abril 18, 2008 8:47 PM  

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