quinta-feira, janeiro 31, 2008

AUTO-AJUDA – 04/04/2007

"A diferença básica entre obstáculo e dificuldade é que aquele é intransponível e esta é transitória" => frase impressa na capa de um livro de auto-ajuda.

A necessidade de justificar a inércia e a incapacidade é um fenômeno humano contemporâneo. Antes da Revolução Industrial, da expansão do ensino público e da universalização do voto, não existia tanta gente tão frustrada consigo mesma. Estamos na era dos gurus, falcatruas vivas, estelionatos de carne e osso, que dão um toque de magia e espiritualidade pagã ao capitalismo. Empresas são mais do que pessoas jurídicas, tornam-se conclaves de magos. Na corrida da carreira, aparece a pista paralela da iluminação. Nirvana financeiro.
Mas a felicidade não é uma catatonia. Não existe processo de criação de alegria, somente intuições mais ou menos bem elaboradas de como encontrar contrapesos para a tristeza cotidiana. A tristeza é inevitável, a felicidade não. Viver é sofrer e duvidar. Inclusive duvidar que o dinheiro vai chegar pras contas. Às vezes, o inferno é periódico. Mensal.

SPRINT. PAUSA. SPRINT. PAUSA. SPRINT. PAUSA. SPRINT. PAUSA. – 27/03/2007

É estranho, por ser ao mesmo tempo desesperador e alienante. Ter a perspectiva de ganhar dinheiro num futuro próximo mas não especificamente localizado é pior do que não ter perspectiva alguma. É como se o tiro de inicio da corrida tivesse sido disparado há poucos segundos e não me disseram se são 100 metros rasos ou maratona.
Essa perspectiva fica ainda mais bizarra e surreal e brumosa quando se tenta manter os hábitos sociais que envolvem ter grana. A saber, as atividades supérfluas que nos mantém em contato com nossos semelhantes (quem?). Existir socialmente é ter dinheiro!
Em retrospectiva, sob esse prisma, relacionamentos ocorridos em épocas de penúria da minha vida eram, no que concerne à estrutura, quase somente sexo recreativo. Tinham, sim, sentimento (nem sempre tão intenso ou profundo quanto se espera ou se admite....), mas ao descrever a rotina que se desenvolveu naturalmente, me vem a frase “Pô, a gente não saía daquela cama”.

FAZ TEMPO QUE NÃO PENSO EM POLÍTICA, ENTÃO.... – 15/01/2008

Ao chegar no centro do alto vale, disse o viajante de ferro: pedi e recebereis. Vitimas da fome, este é o vosso aguardado libelo! Aqueles que dizem, que pensam, que falam, e que tudo têm, esses serão vocês também! E ficou claro para os que tudo têm, o que dizia o novo Rei. Ao viajante de ferro responderam: pagai e receberei. Ele, que se opusera porque se opusera, sempre sabendo o porquê e sempre encarando a fera, optou. E seguiu os velhos hábitos e também capitulou.

Contava a antiga rima do lobo que se vestiu de cordeiro para predar insuspeito e do cordeiro que se vestiu de lobo para dentre predadores sair inteiro. O viajante essa rima esqueceu, e seu final dizia que assim se deu: o lobo foi morto por engano por um dos seus e o cordeiro viciou-se no sangue dos irmãos após o primeiro que comeu. E assim foi com o viajante e alguns remadores de seu barco a vela. Quem esquece aquilo que foi não lembra mais daquilo que não era.