RAZÃO DE SER DESTE BLOG (Parte II) – escrito em 20/02/2007, publicado em 14/01/2008
A primeira sensação que tive ao ler isso foi que a fuga que ela descreve é um oásis de solidão feliz em meio à melancolia de estar cercada de gente que quer algo dela. Em seguida, me veio a satisfação de perceber que não há trabalho na cena, não trabalho como produção de bens ou serviços, mas como atividade remunerada, venda da capacidade física e/ou intelectual. A imagem de uma mulher jovem, descansando, ouvindo música (uma criança tocando piano?) e bebendo suco das árvores frutíferas que ela plantou me passou a idéia de ausência de emprego, não por desconsideração, mas por ser algo supérfluo, visto que ela encontra (auto)realização no que a cerca.
A princípio, não há capitalismo em nada do que acontece ali. Mas a palavrinha de abertura, sutil, me puxa de volta à realidade, assim como também a ex-Sra. Bergman. Domingo. Adultos que têm um emprego e crianças que vão à escola, a partir da idade em que essa deixa de ser descoberta e se torna rotina, sabem reconhecê-lo em sua plenitude.
Pra quem não trabalha, os dias são iguais. E é justamente quem não trabalha que mais desesperadamente busca essa coisa chamada diversão, ou entretenimento, ou lazer. Buscam do jeito errado. Se entretém na ânsia de encontrar felicidade. Geralmente são jovens (que seja, adolescentes. Odeio esse termo!) que nasceram há pouco tempo ou há várias décadas e falam como “animadores” de rádio FM, inseguros que são, sempre tentando te convencer da própria alegria ou te ensurdecer – geralmente as duas coisas. E erram porque procuram felicidade no lugar errado e do jeito errado. Felicidade não está num local, ou hábito, pois não preenche espaço, não é como algodão em bolinhas. Não pode ser encontrada, apenas criada.